quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pare de reclamar

Nada de assuntos ou vídeos polêmicos dessa vez, mas sim um pequeno vídeo com o intuito de fazer o leitor refletir sobre tudo que fez e que fará e que com certeza lhe dará uma nova visão de como se comportar em frente a qualquer desafio que encontrará no futuro ou que esta encontrando.
Todos já passamos por problemas que nos perguntávamos como iríamos suportar levantar e continuar vivendo... E muitas vezes acabamos fazendo pior, e tomamos a pior atitude; de apenas tentar sobreviver sem nunca pensar que a situação poderia estar pior, mas que aquilo que estávamos passando era o pior.
          Meu ligeiro comentário se transformou em um índice de auto-ajuda, mas sem mais delongas eis o vídeo que espero de alguma maneira ser útil ao leitor, um vídeo que com certeza é um exemplo de vida e que deveríamos absorver seu ensinamento.




Finalizo com umas palavras de Shakespeare:
 [...] E você aprende que realmente pode suportar… que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar 
(O menestrel. Willian Shakespeare).

Instinto extinto


Sem vídeo dessa vez, mas venho falar da “marcha das vagabundas”. Caso o leitor não tenha sido informado não o culpo, pois nem todos os assuntos interessam a mídia, mas apenas futebol ou noticias sobre o último escândalo de Brasília.
Depois da polêmica no Canadá, a “Marcha das Putas” ou "Marcha das Vagabundas" (SlutWalk) chamou a atenção do mundo todo e, depois de passar por Argentina, Estados Unidos, Inglaterra, Holanda e Nova Zelândia, agora chega a São Paulo.
            Caso você não se lembre ou simplesmente nem estava sabendo, tudo começou com um comentário de um policial canadense, que disse que os crimes sexuais acontecem porque as mulheres se vestem como vagabundas. Mas esse não é o motivo verdadeiro dos estupros e abusos sexuais. Falta segurança nas ruas e mudança de atitude.
            O motivo universal da “Marcha das Putas” é o respeito às mulheres, a igualdade dos sexos e o fim do machismo. Segundo a organizadora, o evento não tem nenhuma relação com o Feminismo, mas critica abertamente o machismo, com motivos reais. “O machismo é um câncer antiquado que precisa ser extirpado da sociedade. Pra mim machismo é preconceito e deve ser tratado como crime assim como racismo”
          “O Brasil precisa mudar as atitudes dos formadores de opinião, da mídia, dos líderes de grupos de trabalho, ou o que quer que seja. As atitudes de pais e mães, educadores, enfim, todos precisam ser mais civilizados, menos preconceituosos e transmitir isso para o próximo: respeito e civilidade”, afirma Madô, uma das entrevistadas.
           

O que julgo interessante de toda essa noticia é exatamente a postura tomada pelo guarda, pois ela não pode ser lida sem antes despertar inúmeras questões como, por exemplo, o que o leva a afirmar que as causas dos estupros são exatamente o fato de como as mulheres se vestem?
O leitor com certeza já ouviu falar em instinto, e pergunto se a frase emitida pelo policial não poderia ser justificada com um possível apelo ao instinto sexual que existi nos animais e por conseqüência nos seres humanos? Claro que sim, se ao menos esse instinto existisse nos seres humanos.
Antropólogos e outros cientistas financiaram pesquisas onde o principal estudo era exatamente esse instinto que antigamente se julgava existente de maneira inata nos seres humanos, mas as pesquisas demonstram algo completamente diferente.
Demonstram que até mesmo esse instinto é algo culturalmente determinado, para se mais preciso algo totalmente ensinado. Pois se julgamos que essa coisa de instinto existe então até mesmo os seres humanos deveriam saber fazer algo antes mesmos de serem ensinados, mas ao colocar duas pessoas de diferentes sexos sem nunca ao menos terem sido ensinadas sobre reprodução ou algo do tipo, elas permaneceram imóveis como se desconhecessem o passo que deveriam dar em seguida.
Se instinto sexual nos seres humanos é algo inexistente, mas simplesmente ensinado culturalmente, então em base de que o guarda pode apoiar seu argumento. Se as opções sexuais, ou atos que os seres humanos tomam quando diz respeito a algo sexual é ensinado, mas mesmo que isso não for levado em consideração é também demonstrado que seres humanos realmente evoluídos não cedem aos instintos ou necessidades básicas, pois se assim o fizessem deixariam de ser seres humanos e se tornariam animais.
Onde quero chegar é, que cada um é responsável pela ação que toma e as roupas de determinada pessoa de nada colabora ou influencia isso ao não ser que você queira que influencie. Dessa forma instinto ou não, as roupas das mulheres não são culpadas pelos abusos ou estupros e o guarda esta profundamente errado. O instinto não existe e se existe devemos ser senhores dele e não deixar que se tornem senhores de nós.
Igualdade e respeito já, e isso só pode ser corrigido nas próximas gerações, pois é uma questão de ensinamento. Mas com isso não admito que esta geração esta perdida, mas que o processo de correção deveria começar agora, pois o estado é alarmante e somente assim poderemos garantir uma pequena melhora no futuro. Até que se tenha deixado claro a condição humana e o que nos define como humanos, ou melhor, mais distantes dos animais guiados apenas por seus instintos, estaremos cometendo esse tipo de erro e justificando nossas ações com argumentos pouco plausíveis, errados e apoiados em bases completamente ignorantes. 


Sobre advogados e sofistas

Mais uma vez trago um vídeo para uma postagem, e como de costume, não o teria postado se não fosse no mínimo interessante, e, como sempre, digno de discussão.




É simplesmente vergonhoso tudo o que o bandido fala na tentativa de se defender e mais vergonhoso ainda aquilo que seu advogado fala para tentar inocentá-lo ou para justificar a atitude do bandido.
Como o vídeo demonstra o foco que abrange então falaremos dele em especial. É interessante a comparação do advogado quando insinua que toda profissão tem ética na tentativa de inocentar seu cliente e comparando o ato de roubar e matar do bandido com uma profissão.
É certo que na própria republica de Platão há uma passagem que se menciona os bandidos é que é necessária uma ordem até mesmo no crime, mas em momento nenhum essa ordem é igualada a ética. Se o advogado comparasse a atitude do bandido de não querer entregar seu parceiro com uma espécie de conduta ou ordem ou, vamos ser francos, de medo daquilo que poderia acontecer com ele se falasse algo mais do que devia seriam explicações possíveis e plausíveis, mas comparar suas atitudes e sua escolha com a ética de uma profissão, ai estamos entrando em outro campo onde a verdade ou justiça não existem.
            Mas utilizando ainda Platão como exemplo, acredito que os advogados sejam iguais aos antigos sofistas que se preocupavam unicamente em aperfeiçoar e ensinar as técnicas do discurso a fim de sempre convencer seus interlocutores daquilo que falavam, pois para eles não interessava se o que falavam é verdadeiro, pois o essencial era somente conquistar a adesão do público ouvinte. É claro que quando comparo os advogados com sofistas me refiro grande maioria, pois é preciso aceitar que mesmo quase inexistentes, existe alguns advogados que empregam seu trabalho realmente a serviço da justiça e da proteção, e não ao dinheiro que parece ser mais útil que a justiça e mais capaz de garantir a proteção.    

O problema da passividade.

Venho hoje com mais um vídeo do site TED que já mencionei em outra postagem.
O vídeo dessa vez traz um assunto, ou melhor, o problema apontado por Chimamanda Adichie que ela conta por meio de uma história que ela nomeia de "o perigo de uma história única”, mas o que seria exatamente isso? Bem, ao invés de dar uma prévia resumida da fantástica problemática que Chimamanda conta apaixonadamente, proponho, antes, ao querido leitor que assista antes de ser influenciado pelas minhas possíveis interpretações.


Parte I

Parte II


           O que podemos tirar de tudo que foi contado no vídeo? O titulo da postagem é o problema da passividade, e porque seria exatamente esse o titulo e qual sua relação com o vídeo?
Talvez o leitor não tenha a mesma interpretação que tive do mesmo vídeo, mas um ponto que julguei interessante foi exatamente essa passividade que temos desde crianças de simplesmente aceitar aquilo que nos é imposto.
O que quero dizer disso? É fato que hoje a educação tem um grande problema, alias não um problema, mas uma total negligencia por ela. Não damos o devido valor, mas o que quero dizer com valor?
            Aprender é uma virtude que poucos cultivam, quero dizer, a maioria dos alunos de hoje vão ás escolas por obrigação quando não apenas para ganhar a merenda... Não que seja um lugar que seja útil apenas para se fazer amizade, mas nem para isso a escolas tem servido e ao invés disso estão se tornando uma espécie de jaula onde competem para saber quem é o macho ou fêmea alfa do local transformando a própria classe em um ring de luta onde o principal golpe é nomeado bullyng. Mas esse não é o tema para essa postagem.
            O que quero dizer que as escolas deixaram de ser um ambiente de puro aprendizado não unicamente por parte dos professores, mas também por grande colaboração dos alunos e é a sua total passividade ou negligencia perante aos estudos. O que nos faz a aceitar estereótipos carregados de preconceitos? O que nos faz acreditar que o que professor diz é verdade?
            Aluno significa sem luz, é por essa perspectiva é realmente impossível exigir que alunos cobrassem conteúdos de seus professores se nem sabem que conteúdos são esses. Mas o estudo parece começar e morrer no momento em que sentam e levantam das cadeiras, os alunos parecem não demonstrar interesse e não pesquisarem nada do que foi ensinado. Isto é quando desistem e finalmente aceitam a escutar o professor...
            Onde quero chegar disso tudo é; temos que abandonar essa menoridade que parecemos cultivar desde o momento em que nascemos, aceitamos tudo que nos é imposto como verdades absolutas e sem querer contribuímos para a história única. Sem nunca pesquisar sobre o que estão nos ensinando, ou sem nunca duvidar daquilo que escutamos, sem nunca discutirmos sobre a exatidão de algo que é afirmado. São pequenos detalhes que, a meu ver, contribuem de maneira lenta e sutil para a história única. Os maiores culpados dessas “histórias únicas” somos nós mesmos, que aceitamos o que nos é dito com tanta naturalidade que acabamos transformando essas histórias únicas na única história que podem ser concebida.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Uma outra perspectiva: a cultura

    O antropólogo está tão familiarizado com a diversidade das formas de comportamento que diferentes povos apresentam em situações semelhantes, que é incapaz de surpreender-se mesmo em face dos costumes mais exóticos. De fato, se nem todas as combinações logicamente possíveis de comportamento foram ainda descobertas, o antropólogo bem pode conjeturar que elas devam existir em alguma tribo ainda não descrita. 

    Deste ponto de vista, as crenças e práticas mágicas dos Nacirema apresentam aspectos tão inusitados que parece apropriado descrevê-los como exemplo dos extremos a que pode chegar o comportamento humano. Foi o Professor Linton, em 1936, o primeiro a chamar a atenção dos antropólogos para os rituais dos Nacirema, mas a cultura desse povo permanece insuficientemente compreendida ainda hoje. 

    Trata-se de um grupo norte-americano que vive no território entre os Cree do Canadá, os Yaqui e os Tarahumare do México, e os Carib e Arawak das Antilhas. Pouco se sabe sobre sua origem, embora a tradição relate que vieram do leste. Conforme a mitologia dos Nacirema, um herói cultural, Notgnihsaw, deu origem à sua nação; ele é, por outro lado, conhecido por duas façanhas de força: ter atirado um colar de conchas, usado pelos Nacirema como dinheiro, através do rio Po- To- Mac e ter derrubado uma cerejeira na qual residiria o Espírito da Verdade. 

    A cultura Nacirema caracteriza-se por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que evolui em um rico habitat. Apesar do povo dedicar muito do seu tempo às atividades econômicas, uma grande parte dos frutos deste trabalho e uma considerável porção do dia são dispensados em atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano, cuja aparência e saúde surgem como o interesse dominante no ethos deste povo. Embora tal tipo de interesse não seja, por certo, raro, seus aspectos cerimoniais e a filosofia a eles associadas são singulares.
A crença fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano é repugnante e que sua tendência natural é para a debilidade e a doença. Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é desviar estas características através do uso das poderosas influências do ritual e do cerimonial. Cada moradia tem um ou mais santuários devotados a este propósito. Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm muitos santuários em suas casas e, de fato, a alusão à opulência de uma casa, muito freqüentemente, é feita em termos do número de tais centros rituais que possua. Muitas casas são construções de madeira, toscamente pintadas, mas as câmeras de culto das mais ricas têm paredes de pedra. As famílias mais pobres imitam as ricas, aplicando placas de cerâmica às paredes de seu santuário. 

    Embora cada família tenha pelo menos um de tais santuários, os rituais a eles associados não são cerimônias familiares, mas sim cerimônias privadas e secretas. Os ritos, normalmente, são discutidos apenas com as crianças e, neste caso, somente durante o período em que estão sendo iniciadas em seus mistérios. Eu pude, contudo, estabelecer contato suficiente com os nativos para examinar estes santuários e obter descrições dos rituais. 

    O ponto focal do santuário é uma caixa ou cofre embutido na parede. Neste cofre são guardados os inúmeros encantamentos e poções mágicas sem os quais nenhum nativo acredita que poderia viver. Tais preparados são conseguidos através de uma serie de profissionais especializados, os mais poderosos dos quais são os médicos-feiticeiros, cujo auxilio deve ser recompensado com dádivas substanciais. Contudo, os médicos-feiticeiros não fornecem a seus clientes as poções de cura; somente decidem quais devem ser seus ingredientes e então os escrevem em sua linguagem antiga e secreta. Esta escrita é entendida apenas pelos médicos-feiticeiros e pelos ervatários, os quais, em troca de outra dádiva, providenciam o encantamento necessário. Os Nacirema não se desfazem do encantamento após seu uso, mas os colocam na caixa-de-encantamento do santuário doméstico. Como tais substâncias mágicas são especificas para certas doenças e as doenças do povo, reais ou imaginárias, são muitas, a caixa-de-encantamentos está geralmente a ponto de transbordar. Os pacotes mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem quais são suas finalidades e temem usá-los de novo. Embora os nativos sejam muito vagos quanto a este aspecto, só podemos concluir que aquilo que os leva a conservar todas as velhas substâncias é a idéia de que sua presença na caixa-de-encantamentos, em frente à qual são efetuados os ritos corporais, irá, de alguma forma, proteger o adorador. 

    Abaixo da caixa-de-encantamentos existe uma pequena pia batismal. Todos os dias cada membro da família, um após o outro, entra no santuário, inclina sua fronte ante a caixa-de-encantamentos, mistura diferentes tipos de águas sagradas na pia batismal e procede a um breve rito de ablução. As águas sagradas vêm do Templo da Água da comunidade, onde os sacerdotes executam elaboradas cerimônias para tornar o líquido ritualmente puro. 

    Na hierarquia dos mágicos profissionais, logo abaixo dos médicos-feiticeiros no que diz respeito ao prestígio, estão os especialistas cuja designação pode ser traduzida por "sagrados-homens-da-boca". Os Nacirema têm um horror quase que patológico, e ao mesmo tempo fascinação, pela cavidade bucal, cujo estado acreditam ter uma influência sobre todas as relações sociais. Acreditam que, se não fosse pelos rituais bucais seus dentes cairiam, seus amigos os abandonariam e seus namorados os rejeitariam. Acreditam também na existência de uma forte relação entre as características orais e as morais: Existe, por exemplo, uma ablução ritual da boca para as crianças que se supõe aprimorar sua fibra moral. 

    O ritual do corpo executado diariamente por cada Nacirema inclui um rito bucal. Apesar de serem tão escrupulosos no cuidado bucal, este rito envolve uma prática que choca o estrangeiro não iniciado, que só pode considerá-lo revoltante. Foi-me relatado que o ritual consiste na inserção de um pequeno feixe de cerdas de porco na boca juntamente com certos pós mágicos, e em movimentá-lo então numa série de gestos altamente formalizados. Além do ritual bucal privado, as pessoas procuram o mencionado sacerdote-da-boca uma ou duas vezes ao ano. Estes profissionais têm uma impressionante coleção de instrumentos, consistindo de brocas, furadores, sondas e aguilhões. O uso destes objetos no exorcismo dos demônios bucais envolve, para o cliente, uma tortura ritual quase inacreditável. O sacerdote-da-boca abre a boca do cliente e, usando os instrumentos acima citados, alarga todas as cavidades que a degeneração possa ter produzido nos dentes. Nestas cavidades são colocadas substâncias mágicas. Caso não existam cavidades naturais nos dentes, grandes seções de um ou mais dentes são extirpadas para que a substância natural possa ser aplicada. Do ponto de vista do cliente, o propósito destas aplicações é tolher a degeneração e atrair amigos. O caráter extremamente sagrado e tradicional do rito evidencia-se pelo fato de os nativos voltarem ao sacerdote-da-boca ano após ano, não obstante o fato de seus dentes continuarem a degenerar. 

    Esperemos que quando for realizado um estudo completo dos Nacirema haja um inquérito cuidadoso sobre a estrutura da personalidade destas pessoas, Basta observar o fulgor nos olhos de um sacerdote-da- boca, quando ele enfia um furador num nervo exposto, para se suspeitar que este rito envolve certa dose de sadismo. Se isto puder ser provado, teremos um modelo muito interessante, pois a maioria da população demonstra tendências masoquistas bem definidas. 

    Foi a estas tendências que o Prof. Linton (1936) se referiu na discussão de uma parte específica dos ritos corporal que é desempenhada apenas por homens. Esta parte do rito envolve raspar e lacerar a superfície da face com um instrumento afiado. Ritos especificamente femininos têm lugar apenas quatro vezes durante cada mês lunar, mas o que lhes falta em freqüência é compensado em barbaridade. Como parte desta cerimônia, as mulheres usam colocar suas cabeças em pequenos fornos por cerca de uma hora. O aspecto teoricamente interessante é que um povo que parece ser preponderantemente masoquista tenha desenvolvido especialistas sádicos. 

    Os médicos-feiticeiros têm um templo imponente, ou latipsoh, em cada comunidade de certo porte. As cerimônias mais elaboradas, necessárias para tratar de pacientes muito doentes, só podem ser executadas neste templo. Estas cerimônias envolvem não apenas o taumaturgo, mas um grupo permanente de vestais que, com roupas e toucados específicos, movimentam-se serenamente pelas câmaras do templo. 

    As cerimônias latipsoh são tão cruéis que é de surpreender que uma boa proporção de nativos realmente doentes que entram no templo se recuperem. Sabe-se que as crianças pequenas, cuja doutrinação ainda é incompleta, resistem às tentativas de levá-las ao templo, porque "é lá que se vai para morrer". Apesar disto, adultos doentes não apenas querem, mas anseiam por sofrer os prolongados rituais de purificação, quando possuem recursos para tanto. Não importa quão doente esteja o suplicante ou quão grave seja a emergência, os guardiões de muitos templos não admitirão um cliente se ele não puder dar uma dádiva valiosa para a administração. Mesmo depois de ter-se conseguido a admissão, e sobrevivido às cerimônias, os guardiões não permitirão ao neófito abandonar o local se ele não fizer outra doação. 

    O suplicante que entra no templo é primeiramente despido de todas as suas roupas. Na vida cotidiana o Nacirema evita a exposição de seu corpo e de suas funções naturais. As atividades excretoras e o banho, enquanto parte dos ritos corporais, são realizados apenas no segredo do santuário doméstico. Da perda súbita do segredo do corpo quando da entrada no latipsoh, podem resultar traumas psicológicos. Um homem, cuja própria esposa nunca o viu em um ato excretor, acha-se subitamente nu e auxiliado por uma vestal, enquanto executa suas funções naturais num recipiente sagrado. Este tipo de tratamento cerimonial é necessário porque os excreta são usados por um adivinho para averiguar o curso e a natureza da enfermidade do cliente. Clientes do sexo feminino, por sua vez, têm seus corpos nus submetidos ao escrutínio, manipulação e aguilhadas dos médicos-feiticeiros. 

    Poucos suplicantes no templo estão suficientemente bons para fazer qualquer coisa além de jazer em duros leitos. As cerimônias diárias, como os ritos do sacerdote-da-boca, envolvem desconforto e tortura. Com precisão ritual as vestais despertam seus miseráveis fardos a cada madrugada e os rolam em seus leitos de dor enquanto executam abluções, com os movimentos formais nos quais estas virgens são altamente treinadas. Em outras horas, elas inserem bastões mágicos na boca do suplicante ou o forçam a engolir substâncias que se supõe serem curativas.
De tempos em tempos o médico-feiticeiro vem ver seus clientes e espeta agulhas magicamente tratadas em sua carne. O fato de que estas cerimônias do templo possam não curar, e possam mesmo matar o neófito, não diminui de modo algum a fé das pessoas no médico feiticeiro. 

    Resta ainda um outro tipo de profissional, conhecido como um "ouvinte". Este "doutor-bruxo" tem o poder de exorcizar os demônios que se alojam nas cabeças das pessoas enfeitiçadas. Os Nacirema acreditam que os pais enfeitiçam seus próprios filhos; particularmente, teme-se que as mães lancem uma maldição sobre as crianças enquanto lhes ensinam os ritos corporais secretos. A contra-magia do doutor bruxo é inusitada por sua carência de ritual. O paciente simplesmente conta ao "ouvinte" todos os seus problemas e temores, principalmente pelas dificuldades iniciais que consegue rememorar. A memória demonstrada pelos Nacirema nestas sessões de exorcismo é verdadeiramente notável. Não é incomum um paciente deplorar a rejeição que sentiu, quando bebê, ao ser desmamado, e uns poucos indivíduos reportam a origem de seus problemas aos feitos traumáticos de seu próprio nascimento. 

    Como conclusão, deve-se fazer referência a certas práticas que têm suas bases na estética nativa, mas que decorrem da aversão profunda ao corpo natural e suas funções. Existem jejuns rituais para tornar magras pessoas gordas, e banquetes cerimoniais para tornar gordas pessoas magras. Outros ritos são usados para tornar maiores os seios das mulheres que os têm pequenos e torná-los menores quando são grandes. A insatisfação geral com o tamanho do seio é simbolizada no fato de a forma ideal estar virtualmente além da escala de variação humana. Umas poucas mulheres, dotadas de um desenvolvimento hipermamário quase inumano, são tão idolatradas que podem levar uma boa vida simplesmente indo de cidade em cidade e permitindo aos embasbacados nativos, em troca de uma taxa, contemplarem-nos. 

    Já fizemos referência ao fato de que as funções excretoras são ritualizadas, rotinizadas e relegadas ao segredo. As funções naturais de reprodução são da mesma forma, distorcidas. O intercurso sexual é tabu enquanto assunto, e é programado enquanto ato. São feitos esforços para evitar a gravidez, pelo uso de substâncias mágicas ou pela limitação do intercurso sexual a certas fases da lua. A concepção é na realidade, pouco freqüente. Quando grávidas as mulheres vestem-se de modo a esconder o estado. O parto tem lugar em segredo, sem amigos ou parentes para ajudar, e a maioria das mulheres não amamenta seus rebentos. 

    Nossa análise da vida ritual dos Nacirema certamente demonstrou ser este povo dominado pela crença na magia. É difícil compreender como tal povo conseguiu sobreviver por tão longo tempo sob a carga que impôs sobre si mesmo. Mas até costumes tão exóticos quanto estes aqui descritos ganham seu real significado quando são encarados sob o ângulo relevado por Malinowski, quando escreveu: 

     “Olhando de longe e de cima de nossos altos postos de segurança na civilização desenvolvida, é fácil perceber toda a crueza e irrelevância da magia. Mas sem seu poder de orientação, o homem primitivo não poderia ter dominado como o fez, suas dificuldades práticas, nem poderia ter avançado aos estágios mais altos da civilização".



Dessa vez o texto não é de minha autoria, mas o grande motivo da postagem do texto foi que esta postagem esta interligada com a anterior uma vez que ela traz uma outra visão de nós mesmos. Para aqueles que não perceberam a tribo dos "Nacirema" é na verdade American de trás para frente. Acredito que o leitor na primeira vez que leu foi quase impossível não demonstrar repugno com os cultos que a tal tribo em questão fazia sem se dar conta que os tais rituais são os nossos, mas com nomes diferentes. É extremamente fácil julgar algo como normal tendo nosso próprio habito ou costume como referencia, mas que se parecem completamente estranhos quando virados para nós e ditos de outra maneira... Depois desse texto como você se define e diferencia das outras tantas civilizações?


Referência: YOU AND THE OTHERS - Readings in Introductory Anthropology; A.K. Rooney e P.L. de Vore (Cambridge, Erlich) 1976.

Uma outra perspectiva: a condição humana

O vídeo que coloco aqui é um vídeo/poema de Ernest Cline que ilustra de maneira crítica e bem humorada a condição humana, que ao ser analisado é um material muito interessante para ser interpretado e muito bem estudado.



    
    O vídeo fala por si, mas é sem dúvida interessante essa visão que Ernest nos da sobre a condição humana. A visão de que por mais inteligentes ou notáveis que algumas pessoas sejam, por mais belos ou impressionantes que algumas construções sejam, por mais fantástico que seja qualquer coisa que concebemos, elas foram feitas por pessoas, e unicamente por pessoas. Pessoas que assim como você não passa de mais um macaco.
Mas não é somente esse ponto que pode ser estudado do vídeo, mas muito outros também, pois esse vídeo é repletos de detalhes que provocam, detalhes esses que parecem clamarem por uma pequena discussão.
    Destacando um ponto que julguei interessante no vídeo, exatamente no momento em que é comentado sobre Nietzsche e que abriu uma ponta para discussão é exatamente o fato de  algumas pessoas demonstram tanto interesses pelos seus superiores que não sobra quase nada para elas mesmas... A tal ponto de parecer que nem chegaram a desconfiar que ele próprio, Nietzsche, era também um macaco.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ler devia ser proibido

                Mais um título para nossa seção de títulos chamativos com o objetivo de forçar o leitor a ler.
                Certa vez reunido com os amigos, se o leitor me permite a sinceridade, no bar e como de costume colocando em “prática” o que aprendemos em nossas aulas com discussões amistosas, foi impossível não chamar a atenção de um determinado individuo que não agüentou tal frase que um de nós havia proferido a saber; Como é possível chegar á faculdade sem nunca ter ao menos lido uma obra literária,dizia ele, que precisávamos ter lido Shakespeare, Fernando Pessoa, e não somente isso, mas obras de profunda reflexão filosófica como Platão, Descartes ou até mesmo Nietzsche.
                Eis que surge o indivíduo que citei há pouco. Ele se introduziu em nossa conversa já com a pergunta pra que ler Platão? Shakespeare, ou poemas? Eu que acompanhava toda a discussão calado foi difícil não se conter. Porém nem foi preciso, àquele que tinha afirmado que precisávamos ler já o interrogou perguntando “por que não ler?”, mas apenas isso não era suficiente, então perguntou também o que ele estudava e o “anti-leitura” respondeu com prepotência e arrogância; Engenharia.
                Resumindo tudo para não abusar do tempo do leitor, a discussão não teve uma conclusão, o indivíduo em questão foi embora sem dar a menor importância para o discurso em defesa da leitura que todos daquela mesa tinham a dar.
                Mas analisando-o e partindo unicamente dele, não é muito difícil chegar a uma conclusão de porque a maioria das pessoas não lêem ou não gostam de ler.
                O mundo de hoje pede praticidade, e, não que um livro não tenha nada de prático, mas sua praticidade vem de maneira mais lenta do qualquer coisa. Um livro leva tempo para ser lido, um livro não é fácil, pois é preciso prestar atenção em detalhes ao invés de simplesmente esperar o som chegar a seus ouvidos como acontecem com filmes, televisões, rádios, etc.
                E estou falando de um livro que pode ser lido em uma semana, um “romance da moda”, nem ousei dar como exemplo “A republica” de Platão, “Meditações” metafísicas de Descartes ou até mesmo “A crítica da razão pura” de Kant.
 Esses que acabo de citar são de complexidade infinitamente maior, e se a maioria das pessoas se recusam a lerem as meras legendas de um filme então nem desperdiçarei meu tempo tentando convencê-las a correr atrás do mínimo grau de instrução ou até mesmo de conhecimento.
                Para falar a verdade de prático a leitura não tem quase nada, mas a leitura carrega consigo palavras que por sua vez carregam idéias, “idéias que lançadas à mente produz ondas de superfície e de profundidade, provoca uma serie infinita de reações em cadeia, agitando em sua queda imagens, analogias e recordações, significados e sonhos”. Uma leitura requer tempo, e tempo é o que menos se tem hoje em dia, não é verdade? Gastamos todo nosso precioso tempo que temos para ligar a televisão, usar a internet, assistir novelas; filmes ou seriados, ouvir musicas... Espere, realmente não temos tempo?
                Talvez não seja o tempo o real motivo de não lermos, mas sim nossa total falta de interesse, e de que é muito mais divertido e prático fazer outras coisas. Mesmo que uma delas seja dormir o dia todo, se afogar em álcool, ou passar o dia todo na internet sem ao menos buscar algo realmente interessante.
                Para finalizar concluo com um vídeo fantástico que, de maneira irônica, informa a utilidade da leitura.